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O que não nos mata: crescimento pós-traumático





texto de  Stephen Joseph
Publicado no TED WEEKENDS

A conversa comovente de Tacey Kramer (vídeo no final do post) "O melhor presente no qual sobrevivi", em que ela descreve suas experiências com um tumor no cérebro, fornece um testemunho de um dos temas mais importantes em psicologia clínica moderna - crescimento pós-traumático.

Crescimento pós-traumático refere-se sobre como a adversidade, pode muitas vezes, ser um trampolim para uma vida nova e mais significativa em que as pessoas reavaliam suas prioridades, aprofundam suas relações, e encontram novos entendimentos de quem eles são. Crescimento pós-traumático não é simplesmente sobre como lidar, se refere às mudanças que cortam o âmago da nossa maneira de estar no mundo. Crescimento pós-traumático tem a ver com a nossa forma de saudar o dia, como acordar de manhã. A nossa forma de escovar os dentes e nos colocar em nossos sapatos - ele reflete a nossa atitude sobre a própria vida e do nosso lugar no mundo.

Estudos científicos têm demonstrado que o crescimento pós-traumático é comum em sobreviventes não só de doenças fatais, mas também outros eventos traumáticos, incluindo as catástrofes, acidentes e violência. Normalmente 30-70 por cento dos sobreviventes dizem que eles tiveram mudanças positivas de uma forma ou de outra.

Crescimento pós-traumático é um tema importante porque está mudando a forma como pensamos sobre o trauma e como tratá-lo. Ele desafia a visão tradicional psiquiátrica de trauma e nos afasta de apenas olhar para seus efeitos destrutivos, e nos volta para entender que é na luta com o sofrimento que o crescimento pode surgir.

Aqueles que tentam colocar suas vidas de volta exatamente do jeito que era, permanecem fraturados e vulneráveis. Mas aqueles que aceitam a ruptura e permitem-se construir-se de novo, se tornam mais resistentes e abertos a novas maneiras de viver.- Stephen Joseph
Crescimento pós-traumático não significa necessariamente que a pessoa vai ser totalmente livre das memórias do que aconteceu com ela, a dor que experimentou ou outras formas de sofrimento, mas que ela é capaz de viver sua vida de maneira mais significativa à luz do que aconteceu. Nós não podemos limpar nossa história e talvez a gente não deva querer fazer isso, como Stacey Kramer diz, apagar as memórias não iria mudar a sua experiência de como tudo o que aconteceu alterou a sua vida.

O foco das pesquisas estão agora em tentar desembaraçar uma dança aparentemente complexa entre estresse pós-traumático e crescimento pós-traumático. Isto pode ser ilustrado com a história do vaso quebrado. Imagine que um dia você bata acidentalmente  em um vaso precioso. Ele cai no chão e quebra em pedaços minúsculos. O que você faz? Você tenta colocar o vaso de volta, juntando os cacos como era? Ou você pega as belas peças coloridas e  tenta usá-las para fazer algo novo - como um mosaico colorido?
Ao  passar por graves adversidades, muitas vezes as pessoas acham que pelo menos uma parte delas - seja a sua visão do mundo, seu senso de si, seus relacionamentos - foi esmagado, partido em milhões de cacos. Aqueles que tentam colocar suas vidas de volta exatamente como era, permanecem fragmentados e vulneráveis. Mas aqueles que aceitam a ruptura e aceitam construir-se de novo, se tornam mais resistentes e abertos a novas maneiras de viver.

Podemos aprender a cultivar o crescimento em nós mesmos. A chave para o crescimento é a forma como falamos para nós mesmos. Entender o significado de nossas experiências de forma que constroem significado, em que vemos a nós mesmos como sobreviventes e até mesmo prósperos, e que estabelecer esperança em nós, nos levará para o crescimento.

Como o crescimento tem raiz precisamos tomar consciência do processo. Podemos nos perguntar:

Existem maneiras em que meus relacionamentos com a família e amigos foram reforçadas e aprofundadas na intimidade?

Quais são as formas em que eu encontrei uma perspectiva diferente sobre a vida com novas oportunidades?

Há coisas que eu fiz para sobreviver; o que aconteceu que me mostrou os pontos fortes dentro de mim que eu não sabia que eu tinha?

Existem maneiras em que eu encontrei uma maior compreensão da vida e como vivê-la?

Existem maneiras em que me encontro mais grato pelo que eu tenho e para os que me rodeiam?

Quando você percebe o crescimento se enraizando, você pode alimentá-lo. Regularmente pergunte a si mesmo estas perguntas e encontre formas para agir nas mudanças que você percebe, mesmo nas menores formas. Então o seu crescimento vai florescer.

E uma outra coisa útil que a pesquisa aponta é o apoio da família e amigos. A conversa com  Stacey Kramer é bem-vinda para a esperança que oferece, mas há três notas de cautela, particularmente para a família e amigos para se lembrar.
Primeiro, não devemos sobrecarregar um ao outro com a expectativa de crescimento pós-traumático. Segundo, o caminho para o crescimento não é sempre fácil, nem curto. O trauma psicológico seguindo um percurso pode ser longo e difícil.
Em terceiro lugar, não há nenhuma promessa de crescimento no fim desse percurso.




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